O Natal é para todos?

21-12-2018

Esta época festiva ilumina não só as ruas e casas como os rostos das pessoas, com os seus sorrisos e fé, proporcionando convívios felizes, união e partilha entre as pessoas no seio das famílias e em seu redor. É uma época de paz e amor, renascer a esperança e aquecer os corações. Para muitos idosos também é assim, mas para grande parte é um tempo de tristeza...

Felizmente há muitos que vão ter com os filhos ou vão estes até à casa onde nasceram passar as festividades com os pais velhinhos, outros juntam-se à família grande e outros passam com os vizinhos na sua singela casinha, muitos filhos vão buscar os pais às instituições. Há diferentes comemorações em todo o lado. Mas há os que vivem sozinhos e lá ficam, sozinhos... E há os que ficam nas instituições, uns que falam por telefone com as suas famílias no 24 de Dezembro e outros sem contacto nenhum... Muitos sentem-se sozinhos, já viúvos ou sem família, outros sentem-se "órfãos" dos filhos vivos, outros estão isolados e abandonados socialmente...

Para além das questões familiares e sociais, também as doenças físicas e psicológicas são um grande entrave à sua felicidade, diminuindo a sua disposição em festejar o que for. As taxas elevadas de depressão e de demências nesta população são por si só nefastas mas aqui refletem-se no mal-estar psicológico, no aumento dos sentimentos de desesperança e na solidão vivida que por sua vez estão proporcionalmente correlacionadas com o desenvolvimento de doenças graves do foro mental e físico.

Nesta época contagiante pelas demonstrações e trocas de afetos, presentes e convívios acaba por ter grande impacto psicológico e físico no bem-estar dos mais velhos. As dificuldades na aceitação de si, desvalorização pessoal e desintegração do Eu leva a comportamentos e mecanismos de defesa que os afastam das pessoas, perpetuando o ciclo de isolamento e mal-estar, intensificado aqui em excesso e tem repercussões graves na vida destes idosos.

Quando institucionalizados as rotinas e tradições são automaticamente quebradas mas muito se faz nas instituições residenciais de idosos para se recriar a noite da Consoada e o Dia de Natal. As mudanças são várias, desde a avó que já não cozinha para a família toda, os netos que já não fazem o teatro típico, a mesa cheia de primos, a tia que faz as melhores sobremesas... Mas permanecem-se os costumes mesmo que desta vez a quadra seja passada com as "novas pessoas". Muitos idosos querem fazer parte dos afazeres e é determinante apostar no envelhecimento positivo e ativo, não só pela sua qualidade de vida mas pelo aumento consequente do bem-estar. Contudo não se pode esquecer os idosos mais fragilizados e cujas capacidades se vão gradualmente perdendo. E neste quadra é preciso recordar isto, para os idosos mais autónomos valorizarem e agradecerem a vida e para os mais vulneráveis relembrar que independentemente dos comprometimentos é possível ainda viver os sentimentos de partilha e carinho, e é na verdade este o maior ênfase do Natal.

O nosso papel de técnicos é principalmente sermos humanos e sermos empáticos, colocando-nos no lugar dos nossos idosos e na sua companhia tentar aproveitar-se para reproduzir momentos e criar novas memórias desta época. É um contraste muito grande entre o que a "sociedade" vive e sente desta época e do que realmente acontece, muitas vezes entristece quem mais de perto está com estes idosos e que nem sempre conseguem contagiar estes com os sentimentos natalícios que estão a sentir.

Por aqui, na Festa de Natal dos utentes, colaboradoras e membros diretivos já se fez sentir o Natal. Com muita comida, animação, teatro e cantorias, prendas e mimos, risos e gargalhadas, conversas e convívio, fazendo jus à época mas também uma tentativa de recriar uma festa com a que têm em suas memórias. E os sentimentos de felicidade estampada na cara dos mais velhos é de imensa gratidão pelo trabalho feito ao longo do ano.

E que se continuem as boas festas e todos os esforços em proporcionar carinho e conforto aos nossos "mais velhos".



Serviço de Psicologia 

Ana Marques


Referências bibliográficas: 

Chaves, M. (2015) BEM-ESTAR SUBJETIVO E PERCEÇÃO DE SUPORTE FAMILIAR EM IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS. Dissertação de Mestrado em Psicologia. Universidade de Évora

Gonçalves, A. (2015) Bem-estar subjetivo de idosos institucionalizados: da construção da autonomia à construção da autoestima. Dissertação de Mestrado em Intervenção para um Envelhecimento Activo. Instituto Politécnico de Leiria

Pinhel, J. M. (2011). A solidão nos idosos institucionalizados em contexto de abandono familiar.  Dissertação de Mestrado em Educação Social. Bragança: Escola Superior de Educação.

Crie o seu site grátis! Este site foi criado com a Webnode. Crie o seu gratuitamente agora! Comece agora